O PERFIL DO NARRADOR NOS ROMANCES A CONJURA DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA E LEALDADE DE MÁRCIO SOUZA: ÁFRICA E AMAZÔNIA

Liliane Batista Barros, Professora Drª. Adjunto da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA). E-mail: liliane.barros@unifesspa.edu.br
Wellyson Gomes dos Santos, Poslet, Graduado em Letras-Português/Inglês, Unifesspa, E-mail: wellysongomesdossantos@gmail.com

RESUMO
Este trabalho visa analisar o perfil do narrador nos romances A Conjura, de José Eduardo Agualusa e Lealdade, de Márcio Souza. O romance A Conjura, de Agualusa, mostra o processo de construção da tão sonhada autonomia nacional por uma grande parte da nação, uma vez que o povo de Angola buscava a identidade e independência durante um período conflituoso, focando nos temas, ideologias políticas, histórias/ “estórias” no romance. O romance histórico Lealdade, de Souza, mostra a busca da colônia portuguesa do Grão-Pará por sua independência, tanto de Portugal quanto do reino Unido do Brasil, em meados do século XIX. O narrador construído por Agualusa é em terceira pessoa, o narrador desse texto nos leva para a velha cidade de São Paulo da Assunção de Luanda no período entre 1880 e 1911( 31 anos de conjura), tempo histórico em que alguns intelectuais da literatura e do jornalismo se revoltaram com a situação em que São Paulo da Assunção de Luanda se encontrava, largada e esquecida, só lembrada para retirar as riquezas da região e levar para o império português. Márcio Souza utiliza o narrador em primeira pessoa, isto é, o narrador é o personagem principal. Em Lealdade, o narrador nos discorre sobre a resistência de um povo que teve uma experiência de um período conflituoso interno, o qual mais tarde resultou numa revolta popular. Esse romance de Márcio de Souza discorre sobre o processo de produção do livro realizado pelo personagem Fernando, Fernando, personagem narrador, discorre os sonhos e projetos de um grupo de intelectuais no Grão-Pará que almejavam a Independência dessa região do Brasil, pensando em um país de igualdade, ele buscava os ideias da Revolução Francesa. A escolha dos textos, autores e personagens portugueses citados visa destacar a origem do protagonista e reafirmar os aspectos culturais daquela região, na perspectiva do narrador. Somado a isso, pontuamos que nos romances A Conjura de José Eduardo Agualusa e Lealdade de Márcio Souza, as análises do nosso corpus serão a partir dos narradores de cada narrativa, explorando alguns conceitos como, o narrador (Bosi, 1996), a resistência (Bosi. 1996), a memória (Recoeur, 2010), história (Benjamin 1940), entre outros que julgarmos pertinentes, pois a pesquisa está em andamento. A base da nossa reflexão e análise tem como suporte a Literatura do Materialismo Histórico proposto por Walter Bejamin (1940).
Palavras-chave: Literatura Comparada. Resistência. Materialismo Histórico. Narrador.

INTRODUÇÃO
Neste trabalho, tomaremos como objeto de estudo os romances A Conjura de José Eduardo Agualusa e Lealdade de Márcio de Souza. A partir das obras desses romancistas decidimos por estabelecer um estudo analítico-comparativo entre os romances, visto que ambas as obras dialogam no que se refere a questões de literatura e história no período da luta de libertação da colonização portuguesa. A nossa escolha se deve a leitura da história dos conflitos ocorridos na construção da luta pela independência e a busca de uma identidade, tanto Grão-Pará quanto São Paulo da Assunção de Luanda (Angola). Em nossas leituras, verificamos que o eixo comum entre os estudiosos são os questionamentos no que diz respeito a busca pela autonomia e independência do império português. Dentro da narrativa literária, discorreremos essa análise a partir do narrador. A partir da análise dos romances A Conjura de José Eduardo Agualusa e Lealdade de Márcio de Souza, pretendemos analisar o período da História em que ocorrem a guerra de libertação em ambos os países, em Grão-Pará a Cabanagem e São Paulo da Assunção de Luanda a Guerra Civil. Assim, supomos que as obras dialogam e ao situarmos a escrita das Histórias no contexto de uma literatura. Os romances A conjura e Lealdade, relacionam literatura, história, evocando vozes capazes de desvelar alguns dos sentidos criados pela história oficial na formação nacional angolana e grão-paraense. Agualusa e Souza impossibilitam o esquecimento dos conflitos vividos por grão-paraenses e luandenses, visto que a História Oficial tende a não registrar esse assunto ou, quando o faz, ocorre de maneira superficial (ocultando fatos que ocorreram, ou simplesmente não registrando, caindo no esquecimento). O romance A Conjura, de José Eduardo Agualusa, mostra o processo de construção da tão sonhada autonomia nacional por uma grande parte da nação, uma vez que o povo de Angola buscava a identidade e independência durante um período conflituoso, focando nos espaços expostos, ideologias políticas, histórias/ “estórias” no romance. O romance histórico Lealdade, de Márcio Souza, mostra a busca da colônia portuguesa do Grão-Pará por sua independência, tanto de Portugal quanto do reino Unido do Brasil, em meados do século XIX. Diante disso, esse fato histórico é ficcionalizado apresentando uma região histórica, rica econômica e politicamente com ideais bem estabelecidos, o romance histórico é pautado por Esteves (2007). O caráter relevante dessa dissertação destaca-se por comparar/analisar A Conjura e Lealdade conforme suas relações com a literatura, história e política. Em A conjura, diante do desejo de liberdade de um povo, um povo que clamava por libertação da exploração. Na obra percebe-se que a confiança e a fraternidade do povo cresceram com o passar da narrativa, mas traz um final surpreendente. O romance angolano é narrado em terceira pessoa, esse texto nos leva para a velha cidade de São Paulo da Assunção de Luanda no período entre 1880 e 1911( 31 anos de conjura), tempo histórico em que alguns intelectuais da literatura e do jornalismo se revoltaram com a situação em que São Paulo da Assunção de Luanda se encontrava, largada e esquecida, só lembrada para retirar as riquezas da região e levar para o império português. No romance em questão há, contudo, uma forte conexão com uma fase literária africana e europeia, de caráter inspiratório, que tinha por objetivo fazer da Literatura e da História um meio de senso crítico para que os cidadãos pudessem formar suas identidades nacionais. Em Lealdade, vemos a resistência de um povo que teve uma experiência de um período conflituoso interno, o qual mais tarde resultou numa revolta popular. Esse romance de Márcio de Souza discorre sobre o processo de produção do livro realizado pelo personagem Fernando, Fernando, personagem narrador, discorre os sonhos e projetos de um grupo de intelectuais no Grão-Pará que almejavam a Independência dessa região do Brasil, pensando em um país de igualdade, ele buscava os ideias da Revolução Francesa. A escolha dos textos, autores e personagens portugueses citados visa destacar a origem do protagonista e reafirmar os aspectos culturais daquela região, na perspectiva do narrador.

MÉTODOS
Aqui, usaremos a metodologia de pesquisa bibliográfica e análise literária das obras pretendidas. Dessa forma, realizar-se-á um estudo analítico de maneira mais detalhada da narrativa que constitui o corpus da pesquisa por meio da pesquisa bibliográfica, composta de conteúdo previamente elaborado e publicado em fontes secundárias na forma de livros, artigos e outros impressos, além de documentos eletrônicos, os quais passarão pelo crivo do método interpretativo, aos objetivos e ao plano de trabalho proposto. A revisão da literatura, é a análise crítica, meticulosa e ampla das publicações correntes em uma determinada área do conhecimento. Além disso, a pesquisa bibliográfica procura explicar e discutir um tema com base em referências teóricas publicadas em livros, revistas, periódicos e outros. Podemos somar a este acervo as consultas a bases de dados, periódicos e artigos indexados com o objetivo de enriquecer a pesquisa. Somado a isso, pontuamos que nos romances A Conjura e Lealdade, as análises do nosso corpus serão a partir dos narradores de cada narrativa. Os conceitos teóricos que amparam essa pesquisa são: O grande narrador tem sempre suas raízes no povo, principalmente nas camadas artesanais. O narrador cria, segundo o seu desejo, representações do bem, representações do mal ou representações ambivalentes. Graças à exploração das técnicas do foco narrativo, o romancista poderá levar ao primeiro plano do texto ficcional toda uma fenomenologia de resistência do eu aos valores ou antivalores do seu meio. Dá-se assim uma subjetivação intensa do fenômeno ético da resistência, o que é a figura moderna do herói antigo. Esse tratamento livre e diferenciado permite que o leitor acompanhe os movimentos não raro contraditórios da consciência, quer das personagens, quer do narrador em primeira pessoa, segundo Bosi (1996). De acordo com Bosi (1996), resistência é um conceito originariamente ético, e não estético. Sendo assim, o seu sentido mais profundo apela para a força da vontade que resiste a outra força, exterior ao sujeito. Resistir é opor a força própria à força alheia. A memória não foi apenas instruída, mas igualmente ferida pela história. É pertinente pontuar sobre o dever de fazer memória, para Ricouer (2010): o dever de não esquecer, para antecipar a nossa última reflexão. O dever de memória é, muitas vezes, uma reivindicação, de uma história criminosa, feita pelas vítimas; a sua derradeira justificação é esse apelo à justiça que devemos às vítimas. Benjamin (1940) discorre que o historicismo se contenta em estabelecer um nexo causal entre vários momentos da história. Mas nenhum fato, meramente por ser causa, é só por isso um fato histórico. Ele se transforma em fato histórico postumamente, graças a acontecimentos que podem estar dele separados por milênios. O historiador consciente disso renuncia a desfiar entre os dedos os acontecimentos, como as contas de um rosário. Ele capta a configuração, em que sua própria época entrou em contato com uma época anterior, perfeitamente determinada. Com isso, ele funda um conceito do presente como um "agora" no qual se infiltraram estilhaços do messiânico.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Partimos do ponto em que podemos observar que os romances de Agualusa e Márcio Souza surgem de suas inquietações históricas e do desejo de retratar uma região que fora deixada à margem da história, fazendo, em suma, um necessário resgate de sua memória. A memória é um fenômeno cultural e político que proporciona a recuperação de elementos basilares ligados ao tempo e ao espaço que possibilitam reaver e reanalisar categorias históricas enraizadas em cada indivíduo. É interessante destacar que os autores dos romances em análise utilizam-se da memória para construir um jogo entre a realidade e ficção em que elementos históricos importantes para compreender o contexto da narrativa. Os romances A conjura e Lealdade dialogam quando se trata da temática de resistência, em ambos os romances os narradores nos mostram a luta de indignação de vários personagens, principalmente na luta de libertação e independência da coroa portuguesa, destaca a forte oposição entre colonizado e colonizador, o que torna a manifestação da realidade dentro da literatura. O narrador de A conjura é um narrador que observa a trajetória dos personagens. O narrador de Lealdade não só expõe os fatos, mas como participa, se questiona e reflete. Ademais, a pesquisa está em andamento, na parte de teorização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, nas duas obras escolhidas para este estudo, reforçamos que a relevância da dissertação se configura na importância da análise comparativa literária, histórica e política na perspectiva do narrador em Angola e Grão-Pará. Desta maneira, a análise comparativa intenta em questionar o processo de construção nacional angolano e grão-paraense durante a guerra de libertação e Independência, pontuando as questões de Literatura, História e Política. O objetivo principal é comparar/evidenciar o processor literário, histórico e político de construção nacional durante a guerra de libertação pela Independência, focando nos espaços e trajetórias expostas dos narradores nos romances A Conjura e Lealdade. Narradores que dão vozes a outros personagens.

REFERÊNCIAS
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AGUALUSA, José Eduardo. A conjura. 1 ed. São Paulo, 2009.

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CARLOS, Ana Maria, MESQUITA, Maria Cláudia de. A intertextualidade em Lealdade de Márcio Souza. Abralic, USP, São Paulo, 2008.

ESTEVES, A. R. O romance histórico brasileiro contemporâneo. Assis, FCL-UNESP, 2007.

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RICOEUR, P. A memória, a história e o esquecimento. Campinas: Unicamp, 2010.

SACRAMENTO, C. John Locke e a problemática da identidade pessoal: do impacto na Modernidade até à sua actualidade na Contemporaneidade. Porto: Universidade do Porto, 2010. Disponível em: <http://metafisica.no.sapo.pt/> . Acesso em: 15 MAR. 2010.

SIQUEIRA, Armando Augusto. ANGOLA E A RESISTÊNCIA COLONIAL: O CASO DO MASSACRE DOS DRAGÕES DO CONDE DE ALMOSTER, 1897. Dossiê: História e Cultura Africana e Afro-Brasileira. v. 9, n. 9. (2012).

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SOUZA, Márcio. Lealdade. 2 ed. São Paulo: Marco Zero, 1997.

TODOROV, Tzvetan. Los abusos de la memoria. Barcelona: PaidósAsterisco*, 2000(a).

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