Postagens

AS MEMÓRIAS CULTURAIS EM NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA

Thuany Silva Martins  Roberta Guimarães Franco Faria de Assis  1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS  O livro Niketche: uma história de poligamia que servirá para embasar esta análise, trata-se de um romance produzido pela escritora moçambicana Paulina Chiziane e teve sua primeira edição lançada em 2002 em Moçambique pela editora Caminho. O nome “Niketche” refere-se a uma dança tradicional da região norte de Moçambique, mais precisamente da Zambézia e Nampula. É “uma dança do amor, que as raparigas recém-iniciadas executam aos olhos do mundo, para afirmar: somos mulheres. Maduras como frutas. Estamos prontas para a vida!” (CHIZIANE, 2004, p. 160).  A obra é narrada em primeira pessoa pela protagonista desta história, Rami. Portanto, sua trajetória é contada a partir do seu ponto de vista, uma mulher que passados vinte e poucos anos de casada, descobre que seu marido Tony, é um homem polígamo e que o mesmo possui outras quatro mulheres. A partir disso, Rami decide sozinha ir atrás delas para conh

O MPLA E A CONSTRUÇÃO DA RAINHA GINGA MBANDI COMO HEROÍNA NACIONAL ANGOLANA

Sílvio Geraldo Ferreira da Silva,  Programa de Pós-Graduação em Letras - PPGL,  Mestrando em Letras – Universidade Federal de Lavras – UFLA,  silviosilva57@yahoo.com.br Roberta Guimarães Franco Faria de Assis, Professora do Departamento de Estudos da Linguagem – DEL, Universidade Federal de Lavras – UFLA,  robertafranco@ufla.br O Movimento Popular de Libertação de Angola – MPLA é hoje um partido de grande importância dentro do universo político do país. Por deter diversos assentos no parlamento, é perceptível que também possui uma grande influência sobre a vida dos cidadãos e cidadãs de Angola. Para chegar ao lugar sociopolítico de destaque que hoje ocupa, o partido do qual fez parte o escritor Manuel Pedro Pacavira, passou por um processo lento e gradual de construção, o qual contou com o uso de diferentes artifícios e abordagens que fortaleceram o movimento como uma identidade organizacional. Segundo o site do próprio partido, “em 10 de Dezembro de 1956, um grupo de patriotas angolan

NARRATIVAS DE PODER PÚBLICO E PRIVADO: A FIGURA DO PAI COMO ALEGORIA DO COLONIALISMO EM CADERNO DE MEMÓRIAS COLONIAIS, DE ISABELA FIGUEIREDO

Lisa Galvão Elisei; graduanda em Letras/Português e suas Literaturas na Universidade Federal de Lavras (UFLA); lisaagalvao@gmail.com. Roberta Guimarães Franco Faria de Assis; professora doutora do Departamento de Estudos da Linguagem da UFLA; robertafranco@ufla.br . O meu pai é o princípio de tudo. Foi aquele que mais amei e odiei. Aquele que melhor me serviu como modelo e de quem mais me quis distinguir. Isabela Figueiredo O livro Caderno de memórias coloniais (2009), de Isabela Figueiredo, é um romance autobiográfico que lida com diversas questões relativas à vida na então colônia de Moçambique, nos anos finais do Império português. Figueiredo viveu na colônia desde seu nascimento, em 1963, até completar treze anos, pouco depois do 25 de abril de 1974, quando retornou para a metrópole, sozinha. Os pais só puderam voltar meses depois. O Caderno de memórias coloniais se consagrou quase imediatamente após a sua primeira publicação. Através de uma escrita crua e dilacerante, a narrado

O PERFIL DO NARRADOR NOS ROMANCES A CONJURA DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA E LEALDADE DE MÁRCIO SOUZA: ÁFRICA E AMAZÔNIA

Liliane Batista Barros, Professora Drª. Adjunto da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA). E-mail: liliane.barros@unifesspa.edu.br Wellyson Gomes dos Santos, Poslet, Graduado em Letras-Português/Inglês, Unifesspa, E-mail: wellysongomesdossantos@gmail.com RESUMO Este trabalho visa analisar o perfil do narrador nos romances A Conjura, de José Eduardo Agualusa e Lealdade, de Márcio Souza. O romance A Conjura, de Agualusa, mostra o processo de construção da tão sonhada autonomia nacional por uma grande parte da nação, uma vez que o povo de Angola buscava a identidade e independência durante um período conflituoso, focando nos temas, ideologias políticas, histórias/ “estórias” no romance. O romance histórico Lealdade, de Souza, mostra a busca da colônia portuguesa do Grão-Pará por sua independência, tanto de Portugal quanto do reino Unido do Brasil, em meados do século XIX. O narrador construído por Agualusa é em terceira pessoa, o narrador desse texto nos leva para a v

“TUDO O QUE DIZIAM DA METRÓPOLE É MENTIRA”: OS RETORNADOS E A DEGRADAÇÃO DO IMPÉRIO PORTUGUÊS EM DULCE MARIA CARDOSO

Karol Sousa Bernardes; graduanda em Letras Português/Inglês e suas Literaturas na Universidade Federal de Lavras (UFLA); karolbernardes1999@gmail.com . Roberta Guimarães Franco Faria de Assis; professora doutora do Departamento de Estudos da Linguagem da UFLA; robertafranco@ufla.br . O Estado Novo português foi um regime marcado por discursos que exaltavam a imagem de Portugal, sobretudo como um país imperial. Essa perspectiva demarcava um aspecto da identidade da nação e foi explorada pelo salazarismo com o objetivo de alcançar um “fervor nacionalista” (LOURENÇO, 2016, p. 38). Assim, a noção de grandiosidade de Portugal era propagada tanto no espaço português quanto nas colônias em África. Com a independência delas em 1975, essa imagem imperial é abalada e o país necessita repensar a própria identidade. Lourenço (2016) expõe que os portugueses só irão ter consciência dessa perda quando os retornados chegam à terra lusitana, principalmente após a Revolução dos Cravos em 1974. A reinteg

NARRATIVAS EM TEMPOS DE CRISE: A PESTE, DE ALBERT CAMUS, A RECEPÇÃO NO BRASIL, A PARTIR DE JACQUES MADAULE E BENEDITO NUNES: RELAÇÕES DE PODER, MEMÓRIAS E REPRESENTAÇÕES.

João Ricardo Barros Silva Luís Antônio Contatori Romano Esta comunicação visa refletir sobre a recepção do romance A peste, de Albert Camus (1913-1960), no Brasil, a partir das publicações do crítico francês Jacques Madaule, no jornal carioca A manhã, em 1948, e do filósofo paraense Benedito Nunes, na Folha do Norte, de Belém, em 1951. O romance A peste, de autoria do escritor, filósofo e dramaturgo franco-argelino, Albert Camus (1913-1960), foi publicado na França em 1947 e traduzido no Brasil, pela primeira vez, por Graciliano Ramos (1892-1953), então autor já consagrado no mercado editorial nacional, e publicado, em primeira mão, pela editora José Olympio no ano de 1950.  O escopo desta comunicação é levar a compreender as possíveis relações de poder, memórias e representações em A peste, como sendo uma narrativa em tempos de crise, tendo-a como uma temática viral, como apresentação alegórica da Segunda Guerra Mundial, e também possibilidades de transposição para novos contextos, co

A REVISÃO AMAZÔNICA E BRASILEIRA A PARTIR DO NEGRO NO PENSAMENTO DE DALCÍDIO JURANDIR

Josiclei de Souza Santos Dalcídio Jurandir, intelectual modernista amazônico, escreveu ao longo de quase quarenta anos o que ele chamou de Ciclo do Extremo Norte, um conjunto de dez romances sobre a Amazônia, em que figuram os conflitos, a cultura e vida das minorias do Marajó, de Belém e do baixo Amazonas. No referido ciclo, o autor fez um questionamento à tese da democracia racial brasileira, apregoada no Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, bem como afirmou a distinção racial nas representações de gênero, antecipando um questionamento que fez surgir décadas mais tarde o feminismo negro. Assim, em um momento em que muitos modernistas estavam empolgados com a tese de Freyre, o projeto romanesco dalcidiano foi uma voz dissonante, mostrando a falsificação da realidade presente no discurso da democracia racial brasileira. O reconhecimento desse falseamento, que Dalcídio Jurandir se propôs a demonstrar a partir de 1941, seria percebido por outros intelectuais do meio artístico s