A PRESENÇA DE MULHERES NEGRAS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: UM RECORTE SOBRE GÊNERO E RAÇA

Erick Jhonys Paes Sarraf, Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática. Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA. E-mail: ericksarraf@unifesspa.edu.br
Ana Clédina Rodrigues Gomes, Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática. Doutora em Educação Matemática. Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA. E-mail: ana.cledina@unifesspa.edu.br

Esta pesquisa de dissertação de mestrado abre alas para as histórias que – as vezes – a história não conta. Busca apresentar as narrativas de professoras, autodeclaradas negras, que ensinam matemática, atuantes no município de Marabá, dando ênfase as narrativas relacionadas a questão de: raça, gênero e formação em educação em matemática. 

O objetivo é investigar como professoras negras que ensinam matemática percebem a igualdade e o preconceito de raça e gênero em seu campo de atuação profissional. E, especificamente, descrever como suas experiencias ao longo da sua formação e atuação profissional influenciam na sua visão de igualdade de gênero e preconceito de raça; identificar possíveis fragilidade da percepção das professoras sobre os temas relacionados ao racismo e sexismo; visando a assunção destes objetivos se faz – exclusivamente – para responder ao questionamento: Como professoras negras que ensinam matemática percebem temáticas como diferença, racismo, misoginia e sexismo, através da ótica das relações de raça e gênero? 

Como caminho metodológico se configurou com uma pesquisa qualitativa, utilizando a Fenomenologia Social, a entrevista narrativa e para análise estrutural das narrativas o método de reunião de dados. 

Em síntese, a obtenção dos resultados buscaremos evidenciar – se existe ou não – a fragilidade na percepção das professoras negras sobre racismo ou sexismo. Portanto, com a efetivação dessa investigação será possível a captura e o registro das falas dos atores sociais investigados, e compreender como vem sendo construído os debates sobre raça, gênero e formação de professores que ensinam matemática no campo acadêmico. 

A pesquisa possibilitará evidenciar assuntos “marginais” na produção acadêmica, em especial na formação de professores, como o racismo e o sexismo, possibilitando que a história dos personagens seja de conhecimento público, e também sirva de microfone para que tenham voz e façam barulho pra ninar gente grande, ou seja, romper com preconceitos.

Hodiernamente existem inúmeros estudo acerca da formação de professores, sejam voltados para a questão curricular ou metodologias de ensino voltadas para a maior apreensão de conhecimentos por parte dos alunos, porém, raros casos são encontrados sobre a motivação de sujeitos pertencentes à grupos marginalizados e as práticas pedagógicas que foram trabalhadas no decorrer da formação destes. Tem-se como exemplo, a universidade em que esse programa de Pós-graduação está inserido, em que no acervo bibliográfico não se encontra, em larga escala, produções sobre a temática que parta de uma visão interna.

Historicamente marginalizada, comumente silenciada e rotineiramente invisibilizada. Essas e inúmeras outras condições são impostas à mulher negra e falar desse sujeito na contemporaneidade é ir além do mero estereótipo que condiciona e a reduz a mera coadjuvante do processo de escrita da história, seja ela pessoal ou coletiva. Por não ser detentora dos padrões eurocêntricos de beleza, inúmeras vezes foi secundarizada em diversos debates indispensáveis para a vida humana em sociedade. Sofre duplo preconceito, o sexismo e o racismo. Primeiro por ser mulher e em seguida por ser negra. Está sujeita a opressões por parte de todos os setores sociais.

As mulheres constituem a maior parte da população do Brasil, conforme uma projeção oficial do site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em que o percentual chega a 50,62% do total no ano de 2015. Por isso, estudar representantes de tal grupo pode ir muito além de conhecer apenas números, possibilitando o conhecimento acerca de um grupo quantitativamente majoritário e historicamente silenciado e invisibilisado.

Nesse sentido, “a formação de professores não pode ser pensada a partir das ciências e seus diversos campos disciplinares, como adendo destas áreas, mas a partir da função social própria à escolarização” (GATTI, 2010, p. 1375). Ou seja, a educação tem em si uma responsabilidade de sanar algumas deficiências da sociedade, entre elas a de desconstruir pensamentos e relações perversas de dominação e exclusão e por isso deve ser pensada a partir da prática dos participes desse processo e não apenas dos conteúdos pré-estabelecidos por uma minoria. Possibilitando que o ingresso, a permanência e o reconhecimento da profissão docente daqueles que há tempos foram ostracizados das discussões e da história brasileira e amazônica.

Ao abordá-las torna-se impossível não citar o duplo preconceito existente, o sexismo e o racismo, em que estas personagens encontraram na educação um meio de desmontar esses estereótipos inferiores que comumente possuem. A questão do gênero deve ser entendida como “constituinte da identidade dos sujeitos” (LOURO, 2007, p.24) em que “são sempre construídas, elas não são dadas ou acabadas” (idem, p. 27). Gênero é uma construção social, instável e em constante edificação. Da mesma maneira a raça também está relacionada a identidade a qual “é entendida, aqui, como uma construção social, histórica, cultural e plural” (GOMES, 1996, p.171).

Logo, a questão do gênero e da raça não está pautada segundo Scott (1999) na mera oposição entre iguais e diferentes, e sim no conflito permanente em que se encontram e segundo Louro (2007) na aceitação da semelhança entre sujeitos equivalentes. A mulher negra possui um papel historicamente subalterno, e quando se encontra em um contexto educacional, tem a possibilidade de reescrever a história. Então, a partir de uma visão interna se pode ter conhecimento como as práticas pedagógicas e o processo de formação em si, no decorrer da formação culminaram para que chegassem ao estágio de docente do ensino superior. 

À vista disso, o campo investigativo da proposta é aprofundar estudos sobre a identidade docente que vêm sendo construída por professoras de matemática autodeclaradas negras que atuam no Ensino Superior, investigando sobre formação – inicial e continuada – docente e as configurações das trajetórias pessoais e profissionais. Desta forma, a identidade docente está diretamente relacionada com as experiências vividas no contexto de atuação e nas trajetórias de vida. Consequentemente, a identidade docente, para Veiga (2012, p.18), “é uma construção que permeia a vida profissional desde o momento da escolha da profissão, passando pela formação inicial e pelos diferentes espaços institucionais onde se desenvolve a profissão, o que lhe confere uma dimensão no tempo e no espaço”.

Portanto, a educação pode ter um papel decisivo e determinante na construção e afirmação das identidades acima citadas, pelo fato de que permite que os sujeitos dos processos formativos construam o conhecimento e também modifiquem a realidade vigente, quando constrói e desconstrói mentalidades, onde se evidencia que “nos tornamos capazes de intervir na realidade, tarefa incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do que simplesmente a de nos adaptar a ela”. (FREIRE, 1996, p. 46)

REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GATTI, Bernadete. Formação De Professores No Brasil: Características e Problemas. Educação e Sociedade. Campinas, v. 31, n. 11, out.-dez. 2010

GOMES, Nilma Lino. Educação, raça e gênero: relações imersas na alteridade. XX Reunião Brasileira de Antropologia e I Conferência: Relações Étnicas e Raciais na América Latina e Caribe, 1996.

IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: Uma análise das condições de vida da população brasileira. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE: Rio de Janeiro, 2015. 

LOURO, Guacira. Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pós-estruturalista. 9. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. 

SCOTT, Joan. O enigma da igualdade. Tradução por Estudos Feministas. Florianópolis, jan-abr, 1999.

VEIGA, IIma Passos Alencastro. Docência como atividade profissional. In: VEIGA, I.P.A; D‟ÁVILA, C. M. (Orgs.). Profissão docente: novos sentidos, novas perspectivas. 2 ed. Campinas/SP: Papirus, 2012, p.13-21.

Comentários

  1. Parabéns Erick pelo tema da pesquisa. Estudos com temas referentes sobre gênero, raça são fundamentais para verificar como anda este processo no âmbito educacional. Com base em seu objetivo de analisar como professoras negras que ensinam matemática percebem a igualdade e o preconceito de raça e gênero em seu campo de atuação profissional. Nesse sentido, gostaria se vai ocorrer uma um recorte temporal/local, se sim?, qual recorte você pretende analisar em sua pesquisa?. Será analisado algum documento oficial para tentar responder suas perguntas norteadoras da pesquisa?

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  2. Olá Alan, agradeço pela interação com texto apresentado. Em palavras iniciais, a pesquisa configura-se em utilizar a Fenomenologia Social na perspectiva dos estudos de Alfred Schutz e, como recorte, utilizaremos a técnica de entrevista narrativa com as professores que ensinam matemática - autodeclaradas negras. E através da extração das falas compartilhadas pelos atores da pesquisas, iremos realizar uma análise estrutural dessas narrativas de de acordo com a ótica de Fritz Schütze. Sinteticamente, buscaremos evidenciar - se existe ou não - fragilidade da percepção das professoras negras sobre os temas geradores, tais como o: racismo e sexismo. A constatação da pesquisa nos auxiliará a evidenciar a formação no que concerne a construção dessas percepções sobre gênero e raça.

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